terça-feira, 8 de abril de 2014

Nas Primaveras de Estrada

Chegou linda a primavera, regada a aguaceiros e perfume de jasmin. Se não amanhece babando água, logo se finda o dia com uma tarde cinzenta goteando o néctar das flores. São diferentes as primaveras, eu lhes digo. A do Rio Grande com amores certamente tem mais flores, mas a "das Américas" não é das piores. As mangas do agosto chegam antes por aqui, encharcam e dão vida aos verdes pastos, judiados do inverno bagual.
Mas que primavera ajeitada, passarada gorjeando céu a fora, até sábia se enxerga por estas bandas. Mas sinto uma falta do alarde dos quero-queros e do canto do bem-te-vi. Aaah, e não esqueço do João Barreiro, que com esse barral estaria em festa com sua companheira erguendo nova morada pra descascar uns barreirinhos. 
Engarupada nos arames da cerca, desabrocha uma rosa, cor de carmim. Noutro canto pra faceirice do beija-flor a brancura dos jasmins inundando de perfume o pensamento, que a favor do vento se aprochega, enchendo o peito de saudades de uma primavera surreal, pois não há nada mais triste que primaverar longe do meu torrão natal.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Somos Bairristas por Descendência!

Campereando pelo mundo, muito tenho aprendido. Não só uma língua diferente, mas os costumes e tradições que nunca vi no meu Rio Grande. Mas também após esse tempo, já consigo entender e fazer certas ligações com a terra de onde vim.

Uma coisa que aprendi nas volteadas aqui nos Estados Unidos é que o mundo todo fala mal dos Americanos. E meio que me identifico com isso quando penso como Gaúcho. Os "Brazileiros" fora do Rio Grande do Sul também falam mal dos Gáuchos. Porém, nós Rio-grandenses assim como os americanos, não somos melhores que nenhum outro povo, mas muita coisas ninguém no mundo inteiro faz melhor que nós. O sentimento de patriotismo, de sermos da terra e de lutarmos por ela. Americanos e Gaúchos são bairristas por natureza, chamem do que quiser, seremos sempre unidos pela mesma causa: Defender a tradição, não importa o quanto isso custe.

O amor a pátria é confundido com arrogância. Não tenho culpa se cultivo as tradições e sei a letra do hino do meu estado de cor. Se conheço a história desde os imigrantes, passando pela Revolução, chegando no hoje em dia com a mesma força de mémoria que os velhos me contaram.

Não sei quem aprendeu com quem, ou se são meros acasos do mundo. Gauchos e americanos, tão distantes, mas ao mesmo tempo tão agarrados no torrão natal que lhes pertence. Então não me julgue por ser bairrista, apenas assista e compreenda que amo o lugar de onde vim, e leve isso de aprendizado pra quando voltares pra casa.


                                                                                                 Pelanka Culau





sábado, 28 de dezembro de 2013

Pra um fim de ano

Não foi fácil passar o Natal longe da família, isso eu confesso. Mas tive o previlégio de celebrar a data nos Estados Unidos, ou melhor, em Nova Iorque. Sonho que todo mundo tem após assistir o filme "Esqueceram de mim". 

Experiência única e iniguálavel. Sentir a força da saudade contra a vontade de viver o novo. 

Comecei a viagem por Chicago, neve e mais neve. Cidade linda, organizada, fácil e inimaginavelmente limpa. De uma beleza ímpar. Se alguém me perguntar qual o lugar mais lindo fora do Rio Grande, com certeza é Chicago. A cidade do ventos. É vento norte, vendo dos castelhano, o minuano, o tipo de vento que imaginar tem por lá! Andar na rua com sensação térmica de -18C é a mesma coisa que correr boi numa coxilha quebrando geada num mês de julho.

Saindo de Chicago passeis uns dias na tal New York. De cara, uma cidade suja, barulhenta e pouco agradável, típico das grandes metrópoles. Com o passar dos dias foi se aprumando. A famosa Times Square é uma loucura de luzes e gente vendendo ingressos pra shows. O Central Park é umas 5 hectares de árvores  com calçadas no meio pro pessoal caminhar. Nada muito melhor que o Rio Grande e suas belezas.

Agora me encontro na capital, Washington D.C. Onde mora o tal Obama na tal Casa Branca. Essa por vez não muito maior que o salão de um C.T.G. como disse um cumpadre por aí. Tapado de brigadiano na volta, parece um bando de ganso na taípa dum açude. 

Enfim, as belezas são distintas, dá pra escolher. Encontrei muita paisagem linda, que ficará na memória pra ser contadas em causo na beira do fogo. Senti o vento na cara mirando o pôr-do-sol relembrando o Itaroquen, imaginando que um dia eu possa proporcionar essas mesmas paisagens aos meus filhos. 

                            Pelanka Culau


sábado, 14 de dezembro de 2013

Nos invernos do agosto

Canta o galo carijó nas tábuas da mangueira,
Clareia a barra do dia nesse inverno boca braba,
Amanhece branco o potreiro da geada do agosto,
O vento norte ecoa longe nas taquara,
Os pingos encilhados, coçando a cabeça no palanque,
É Mais um dia de camperiada no sul do Rio Grande.

O poncho emalado, espantando a chuva,
A peonada cruzando o passo do meio,
Tem vaca atolada na invernada do fundo,
O olho d'agua traiçoeiro com as magras,
Faz o gateado firmar o sovel cinchando,
Tem bóia pro corvedo do capão.

É triste ver o inverno brindando a morte,
Sobrou só o brinco pra contar história,
Desse destino traiçoeiro na beira do banhado,
Os campeiros seguem rumo as casas,
Levando o preço das mangas do agosto.
No peito de peão de estância.

                                  Pelanka Culau



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Légua e pico

São tantas léguas de estrada,
Percorridas nesta vida,
Com chegadas e partidas,
Com esquinas e cruzadas.

A alma carrega o destino,
Escrito pelo Patrão;
Alimentado neste chão,
Verde pampa sulino.

Rio Grande de tropa larga,
Com suas coxilhas reluzindo,
O guacho azevém vindo,
No meio da erva amarga.

O peão retrata a imagem,
Do passado castelhano,
Que vem de ano a ano,
Embelezando essa paisagem.

                        Pelanka Culau

De onde venho

Uma tal de Vila Rica,
No tutano do meu estado,
Conta a história de um passado,
De uma cidade magnífica.

Terra do charolês,
E pencas na cancha reta,
Vinha paulista e poeta,
E ficavam por mais de mês.

Cortam a cidade os trilhos,
Que levavam da charqueada,
O trabalho daquela indiada,
Feito em Julio de Castilhos.

Ponta de gado e fazenda,
Reluziam nas coxilhas;
As tradições farroupilhas,
Serviam de oferenda.

                       Pelanka Culau

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Nos mates da solidão

É triste matear sozinho,
No silêncio das saudades,
Remoendo as vontades,
Deixadas pelo caminho.

Na hora do chimarrão,
O Rio Grande se conserva,
Na alma dessa erva,
Com jujos no coração.

As cismas de mateador,
Lembradas no verde gosto,
Retratam mais um agosto,
Desse gaúcho sonhador.

Que aprendeu a ser alguém,
Com xucros peões de estância,
Mateando na sua infância,
Nos pagos do Itaroquen.

                     Pelanka Culau